Texto por Monica Lopes Stange
Fotografias por Roberto Miyakawa
A tradicional Festa de São João da Turmalina, que aconteceu no dia 25 de junho, veio para coroar, com alegria e união, as atividades desta primeira metade do ano. Dando continuidade à correspondência entre o mundo externo da natureza e o mundo interno de nosso interior humano, podemos dizer que, enquanto a primeira metade do ano pertence a toda humanidade, onde nos ligamos ao mundo espiritual nas comemorações do nascimento, vida e morte do Cristo, a segunda metade do ano é o caminho individual, internalizado, de conhecimento interior numa atuação de forças joaninas nos despertando a desenvolver a autoconsciência. A figura de São João, como força imaginativa, pode nos auxiliar a nos encorajarmos a despertar parte dessa consciência, a usarmos as forças “invisíveis” do inverno para estarmos mais “acordados” e pensarmos mais com o coração, ficarmos num estado mais contemplativo. É época de observarmos estrelas e pores de sol.
João Batista se encontra no limiar entre o antigo e o novo, ele é o último dos profetas e, ao mesmo tempo, mais do que um profeta. Todo povo da Judéia, Jerusalém e das regiões vizinhas do Jordão, iam até ele não só para ouvi-lo falar, mas para vê-lo e dele receber o batismo para a mudança dos sentidos. Repensar, reverter os sentidos, mudar o coração. “Para que ele possa crescer, eu preciso diminuir”. Estas são as palavras de João no quadro do pintor renascentista Mathias Grünewald. Palavras que querem dizer que aquela força dada pela natureza, de crescer para fora de si (manifestações de egoidade como cobiças, êxtase, soberba, exageros, etc.), tão presentes nas forças do verão, do calor que nos leva à exuberância, é que deve diminuir. Isto é, serem recolhidas para o interior, tal como no inverno, para que estas forças da natureza de sonhos se transformem em oferenda e amor. Tal como uma fogueira que se transforma em uma chama que aquece e purifica nosso interior, num sinal que o ser humano antigo se sacrifica para que possa crescer e surgir o novo ser humano dotado de autoconsciência.
Nossa Festa de São João veio celebrar esta nova luz, através do calor produzido pelas belas apresentações de todas as turmas e seus professores, que encantaram o grande público presente com lindas músicas e danças. A Festa de São João vem também nos lembrar que cantar e dançar nos fortalece animicamente e nos deixa mais confiantes para seguir em frente, especialmente quando tudo em volta parece frio e escuro. O mastro de São João foi conduzido pelos alunos do 4º ano, sua professora e famílias com grande reverência, emocionando crianças e adultos. Os alunos do 1º ao 3º anos trouxeram alegria à festa com sua roda, repleta de músicas juninas e belos movimentos. O 4º ano voltou à quadra da escola apresentando o seu Fandango, muito bem ensaiado e empolgante. Os ritmos típicos brasileiros foram lembrados pelos alunos do 5º ano, com a bela montagem do Boi do Maranhão, e a delicadeza do Pau de Fita ficou por conta dos alunos do 6º ano, que encantaram o público com sua sincronia. O 7º ano conduziu um afinado Maracatu, e ao anoitecer as turmas do 1° ao 4° ano dirigiram-se às classes com suas professoras e pais e depois caminharam cantando pela escola, levando suas lanternas através da penumbra e reunindo a todos em torno da fogueira, que foi acesa com bela cerimônia realizada pelos alunos do 8º e 9º anos, simbolizando o fogo interior que precisa ser aceso para esquentar as noites de inverno, isto é, para espantar a escuridão de dentro de cada um. Por fim, o grande “arraiá” teve início ao cair da noite, aquecendo e iluminando ainda mais esta belíssima festa!
Celebremos então, conscientemente João, contemplando interiormente após o solstício de inverno e recebamos a partir do cosmos a dádiva destas forças joaninas!
Desejamos às nossas queridas crianças, famílias e professores ótimas férias! Que todos possam aproveitar este período para descansar e aproveitar seu tempo juntos com alegria!
Fontes: Periódico Colibri (Escola Waldorf Anabá), “Época de São João” (Carmem Silvia Zietemann), Livro Da manhã ao anoitecer (Leonor Von Osterroht).